5.9.09

Soneto do gato morto



Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade

De ter sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de eletricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade.

Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e a morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto

Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.



Florença, 1963

MORAES, Vinicius de. Nova antologia poética. Org. Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.


2 comentários:

Dand M disse...

poemas deliciosos

Dand M disse...

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