29.12.12

O Tejo



O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.


PESSOA, Fernando. Ficções do Interlúdio: Poemas completos de A. Caeiro. In: Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.


25.12.12

Água marinha



Dois pedacinhos de mar
duas pedrinhas
de água
duas pedrinhas
de nada
teus olhos fazem existir o mar


VARELLA, Alex. Céu em cima / Mar em baixo. Rio de Janeiro: Topbooks, 2012.


21.12.12

O Embarque para Citera





L'Embarquement pour Cythère (1717)
Jean-Antoine Watteau 


16.12.12

Ulysses - P. 141



Olharomar. O tempo todo lá sem você: e sempre será, mundo sem fim.


JOYCE, Joyce. Ulysses. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012. Tradução de Caetano W. Galindo.


14.12.12

Inicial



O mar azul e branco e as luzidias
Pedras - O arfado espaço
Onde o que está lavado se relava
Para o rito do espanto e do começo
Onde sou a mim mesma devolvida
Em sal espuma e concha regressada
À praia inicial da minha vida


ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Dual. Lisboa: Editorial Caminho, 2010.


5.12.12

Aroma antigo da memória





PIGNATARI, Décio. Aroma antigo da memória. 2005.