28.11.12

Vivendo sob o fogo (3)



p. 623-624


Só vivo plenamente em meus poemas - não com as pessoas, e menos ainda (por mais estranho que possa parecer) com as que amo - estar e viver. Os amigos não sofrem por nossa causa, podemos dizer a eles toda a verdade, sem ter medo de atingir a carne viva. Eu queria você não apenas como um filho, não apenas como meu amado, mas ainda - como meu amigo: meu igual. É tempo, porém, de compreender que não devemos querer nada para nós próprios, nem mesmo sentir alegria pela plenitude de alguém, pois seria também amor por si próprio ("seu próximo - como você mesmo" - não: seu próximo - como ele mesmo); é tempo de admitir que o amor é o único e definitivo "não-ser" que temos nesta vida: não seja, senão obrigará outra pessoa a ser - "você a impedirá de viver" (de não-ser).


TSVETÁIEVA, Marina. Vivendo sob o fogo: confissões. São Paulo: Martins, 2008.


26.11.12

A festa



Procuramos um lugar
à parte.
Como se estivéssemos
em uma festa
e buscássemos um lugar
afastado
onde pudéssemos
secretamente
nos beijar.
Procuramos um lugar
a salvo
das palavras.

Mas esse
lugar
não há.


MARQUES, Ana Martins. Da arte das armadilhas. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.