20.1.13

Julguei que não voltaria a falar



Julguei que não voltaria a falar
desse verão onde o sol se escondia
entre a nudez
dos rapazes e a água feliz.

Imagens que já não doem
- risos, corridas, a brancura dos dentes,
ou a matutina estrela
ardendo no centro da nossa carne -

chegaram com a neve, tão rara
nestas paragens,
e como pousa a poeira,
sentaram-se ao lume vagarosas.

Aí estiveram, escutando o que traz
o vento. Até anoitecer.


ANDRADE, Eugénio de. Poemas de Eugénio de Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. Seleção, estudo e notas de Arnaldo Saraiva.


6.1.13

Du côté de chez Swann (excerto)



Mas quando nada subsiste de um passado antigo, depois da morte dos seres, depois da destruição das coisas, solitários, mais frágeis mas mais vivos, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, o odor e o sabor restam ainda por muito tempo, como almas, a recordar, a aguardar, a esperar, sobre a ruína de todo o resto, a carregar sem vergar, sobre a sua gotinha quase impalpável, o edifício imenso da lembrança. 


de Proust, na piauí de janeiro. Tradução de Mario Sergio Conti.