22.12.15

The garden of Proserpine (excerto)



From too much love of living,
From hope and fear set free,
We thank with brief thanksgiving
Whatever gods may be
That no life lives for ever;
That dead men rise up never;
That even the weariest river
Winds somewhere safe to sea.

Por demais amar esta vida,
sem nada a esperar ou temer,
eis aqui a graça devida
a seja lá que deus houver
por vida alguma ser eterna;
por morto algum sair da terra;
e até porque o rio que erra
um dia alcança um mar qualquer.


Algernon Charles Swinburne

Tradução minha.

9.12.15

The last interview and other conversations (excerto)



Günter Gaus - Gostaria de perguntar se você sente falta do período da Europa pré-Hitler, que nunca mais existirá. Quando você vem para a Europa, o que permanece e o que foi irremediavelmente perdido?

Hannah Arendt - A Europa do período pré-Hitler? Eu não sinto falta dela, devo dizer. O que permanece? A língua permanece.

Gaus - E ela é muito importante para você?

Arendt - É muito importante. Eu sempre me recusei, conscientemente, a perder a minha língua materna. Eu sempre mantive uma certa distância do francês, que falava muito bem, assim como do inglês, em que escrevo hoje em dia.

Gaus - Eu queria perguntar isso. Agora você escreve em inglês?

Arendt - Eu escrevo em inglês, mas nunca perdi o senso de distância. Existe uma diferença tremenda entre sua língua materna e outra língua qualquer. Eu sempre encarei isso de uma forma extremamente simples: sei uma parte considerável da poesia alemã de cor; os poemas, de alguma forma, estão sempre presentes na minha mente. Eu nunca poderei fazer isso outra vez. Eu faço coisas em alemão que eu não permitiria a mim mesma fazer em inglês. Quer dizer, às vezes eu faço em inglês também, porque me tornei audaciosa, mas em geral mantive uma certa distância. A língua alemã é o essencial que permaneceu e que eu, conscientemente, preservei.

Gaus - Mesmo nos períodos de amargura?

Arendt - Sempre. Eu pensava comigo mesma: o que se pode fazer? Não foi a língua alemã que enlouqueceu. E, segundo, não existe substituição para a língua materna. As pessoas podem esquecer suas línguas maternas. Isso é verdade  eu já vi ocorrer. Existem pessoas que falam a nova língua melhor do que eu falo. Eu ainda falo com um sotaque muito pesado, e muitas vezes falo de forma não idiomática. Eles podem fazer todas essas coisas corretamente. Mas fazem-no numa linguagem onde os clichês se sucedem, porque a produtividade que podemos lograr em nossa própria língua é cerceada quando a esquecemos.

Gaus - Os casos em que a língua materna foi esquecida: você tem a impressão de que foram resultado da repressão?

Arendt - Sim, muito frequentemente. Eu tenho visto ocorrer com as pessoas como resultado de choques. Você sabe, o que foi decisivo não foi o ano de 1933, pelo menos não para mim. O que foi decisivo foi o dia em que ficamos sabendo de Auschwitz.


In: ARENDT, Hannah. The last interview and other conversations. Brooklyn, NY: Melville House Publishing, 2013.

Tradução do inglês feita por mim e Sandra Alvarez.