28.1.14

Sócrates e Alcibíades



“Por que honras, sagrado Sócrates,
Sempre esse jovem? Não conheces nada maior?
Por que o fitam com amor,
como aos deuses, os teus olhos?”

Aquele que pensou o mais fundo ama o mais vivaz,
Aquele que encarou o mundo entende a juventude altiva
E enfim frequentemente os sábios
curvam-se aos belos.


HÖLDERLIN, F. Sämtliche Werke und Briefe. Vol 1. München: Karl Hanser, 1970. Tradução de Antonio Cicero.


10.1.14

O rapaz de Pasolini



Tem o braço levantado para o sol
que rompe muito distante ainda
do seu sonho; é um rapaz
desses do Pasolini esplendidamente
nu, plantado na terra;
o braço direito,
como já disse, levantado; o outro
cai-lhe sem abandono ao longo
do corpo; o sorriso
começa nos olhos de sua mãe
e nele a mágoa
de ser traído não se anuncia
ainda; o futuro
talvez venha a ter gente assim
feita da substância
da luz; o vagaroso futuro;
o presente não, não tem.


ANDRADE, Eugénio de. O sal da língua. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1995.


8.1.14

Eu olho



Olho o céu branco
as nuvens cinzentas
olho o sol sangrando.

Então é isto o mundo,
a casa dos mundos!

Uma gota de chuva...

Olho as casas altas
olho as mil janelas
e a torre distante.

Isto é pois a terra,
morada dos homens!

Nuvens acumulam-se, o sol desaparece.

Olho homens bem vestidos.
Mulheres sorrindo.
Cavalos curvados.

As nuvens, como estão pesadas.

Olho e olho sempre.
Tudo é tão estranho.
Errei, pois, de terra?


OBSTFELDER, Sigbjørn. Je regarde. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia traduzida. São Paulo: Cosac Naify, 2011. Organização e notas de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães.


7.1.14

Hamlet, Ato I, Cena I



Como Horatio, 
queremos que a ilusão permaneça 
ainda que termine por nos esmagar.


MACHADO, Duda. Margem de uma onda. São Paulo: Ed. 34, 1997.