7.3.11

A praia da Tropicália (excerto)




Quando Gal -Fa-tal- estava em cartaz, Torqua [Torquato Neto] agradeceu publicamente [vide coluna Geléia Geral] ao poeta Sailormoon [Waly Salomão], autor das gigantescas palavras-destaques do show, por tê-lo feito recuperar a fé nas palavras. Ora, pois pois, um poeta que perde a fé nas palavras, sílabas, letras, sentenças está quase quase a tosar com máquina zero sua possibilidade de poesia. Poesia: genuína operação anti-afasia. Por inabilidade para suportar banalidades evidentes, o poeta forja uma linguagem e tenta revigorando as palavras, sílabas, letras, sentenças se salvar. Resta a aporia: ou ilusão idealista ou abismo mudo. Mas a poesia não salva nada nem ninguém, ela somente supre o buraco da perda das certezas. Ácidos e mais ácidos roeram as certezas. Enquanto isto, o poeta não se cura de si. O nascido sob o signo de escorpião. Encurralado por um círculo de fogo que se aperta cada vez mais, o escorpião para não morrer torrado crava o ferrão em si mesmo.

SALOMÃO, Waly. Armarinho de Miudezas. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 1993.