Se numa tela branca espalho sensações de azul, verde, vermelho, à medida que vou acrescentando pinceladas as anteriores perdem sua importância. Vou pintar um interior: tenho em frente um armário, ele me dá uma sensação de vermelho bem vivo, e ponho um vermelho que me satisfaz. Estabelece-se uma relação entre esse vermelho e o branco da tela. Digamos que eu ponha ao lado um verde, que eu use um amarelo para o assoalho, e ainda haverá entre esse verde ou esse amarelo e o branco da tela relações que me satisfarão. Mas esses diferentes tons se diminuem mutuamente. É preciso que os diversos signos que emprego sejam equilibrados de tal maneira que não se destruam uns aos outros. Para isso, devo pôr ordem em minhas idéias: a relação entre as cores se estabelecerá de tal maneira que irá sustentá-las em vez de derrubá-las. Uma nova combinação cromática se seguirá à primeira e dará a totalidade da minha representação. Sou obrigado a inverter, e por isso parece que meu quadro mudou totalmente quando, após sucessivas alterações, o vermelho substituiu o verde como dominante. Não me é possível combinar servilmente a natureza, a qual sou forçado a interpretar e submeter ao espírito do quadro. Sendo encontradas todas as minhas relações de tons, deve resultar um acorde cromático vivo, uma harmonia análoga à de uma composição musical.
MATISSE, Henri. Escritos e reflexões sobre arte: Henri Matisse. São Paulo: Cosac & Naify, 2007. Tradução de Denise Bottmann.
Um comentário:
"É preciso que os diversos signos que emprego sejam equilibrados de tal maneira que não se destruam uns aos outros" - nesse trecho ele fala do que significa talento, ou seja, saber equilibrar.
Abraços pra ti,
Su Carvalho
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