10.1.14

O rapaz de Pasolini



Tem o braço levantado para o sol
que rompe muito distante ainda
do seu sonho; é um rapaz
desses do Pasolini esplendidamente
nu, plantado na terra;
o braço direito,
como já disse, levantado; o outro
cai-lhe sem abandono ao longo
do corpo; o sorriso
começa nos olhos de sua mãe
e nele a mágoa
de ser traído não se anuncia
ainda; o futuro
talvez venha a ter gente assim
feita da substância
da luz; o vagaroso futuro;
o presente não, não tem.


ANDRADE, Eugénio de. O sal da língua. Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 1995.


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